Gostei bastante de "The Brutalist" e "The Substance". Gostei de "Anora", mas não vi os outros filmes do Baker. Mas, apesar disso, esses filmes e os outros indicados à premiação residem em temáticas simplesmente batidas e que já foram muito bem esgotadas por outras obras anteriores (e melhores). "A ilusão do sonho americano", "conflitos de classe", "a ditadura da beleza" - todos esses assuntos terminam em obviedades que, com uma estatueta do lado, são tratadas como genialidades. Aí vem o papo dos "temas importantes, atuais e urgentes", mas isso é desculpa esfarrapada pra não ter nada de novo a dizer e se safar por falar que o céu é azul e a grama é verde.
Aliás, a ideia de uma premiação capitalista, que dita mais tendências de mercado do que tendências estéticas, premiar longas pelo seu suposto conteúdo socialmente consciente é a maior "matrix dentro da matrix" que eu consigo conceber. Nos anos 50, em plena Guerra Fria, o capitalismo te vendia a ideia de que ele era a melhor forma de vida (não só de economia e política) disponível, até porque ele tinha que competir com a ideia concorrente no mercado político à época. No século XXI, ninguém mais compra essa ideia tão fácil (só seguidores de coachs de empreendedorismo que pagam uma grana preta num curso e livros do Pablo Marçal), portanto o capitalismo precisa te convencer a lhe dar o seu dinheiro de outra maneira: ele simula pra você um auto-flagelo, um falso teatro da consciência. "Eu sei que eu sou um capitalista branco cis imperialista que causou sofrimento para milhares de pessoas, eu tô arrependido, olhe pra mim como eu estou me chicoteando pra provar que eu tenho consciência dos meus 'pecados'; agora, me dá o seu dinheiro, porque ele é a recompensa mais justa pro meu arco de 'redenção'". No caso de uma premiação como o Oscar, quando este dá a estatueta pra filmes como "12 Years A Slave", "Green Book", "Parasite", "Nomanland", "Everything Everywhere All At Once" e "Anora", nada mais é que a indústria colocando uma medalha em si mesma por ter dito: "foi mal aí, perdão pelo vacilo".
Enquanto isso, autores que realmente tem algo a dizer ficam nos cantos, e isso quando não são esmagados por essa mesma indústria que sinaliza suas próprias "virtudes": Coppola, Cronenberg, Eastwood e até nomes da nova geração como o S. Craig Zahler. E, sinceramente, uma pessoa que realmente estivesse preocupada em apontar as hipocrisias do capitalismo e do sonho americano muito provavelmente se enojaria por receber validação de Oscar.
Fiquei com a impressão de que a academia quer ir na direção de filmes com o orçamento mais modesto, desde de o ano passado, excluindo a campanha. Se a mensagem que academia quer passar visando a sustentabilidade da indústria, acho uma boa direção.
Gostei bastante de "The Brutalist" e "The Substance". Gostei de "Anora", mas não vi os outros filmes do Baker. Mas, apesar disso, esses filmes e os outros indicados à premiação residem em temáticas simplesmente batidas e que já foram muito bem esgotadas por outras obras anteriores (e melhores). "A ilusão do sonho americano", "conflitos de classe", "a ditadura da beleza" - todos esses assuntos terminam em obviedades que, com uma estatueta do lado, são tratadas como genialidades. Aí vem o papo dos "temas importantes, atuais e urgentes", mas isso é desculpa esfarrapada pra não ter nada de novo a dizer e se safar por falar que o céu é azul e a grama é verde.
Aliás, a ideia de uma premiação capitalista, que dita mais tendências de mercado do que tendências estéticas, premiar longas pelo seu suposto conteúdo socialmente consciente é a maior "matrix dentro da matrix" que eu consigo conceber. Nos anos 50, em plena Guerra Fria, o capitalismo te vendia a ideia de que ele era a melhor forma de vida (não só de economia e política) disponível, até porque ele tinha que competir com a ideia concorrente no mercado político à época. No século XXI, ninguém mais compra essa ideia tão fácil (só seguidores de coachs de empreendedorismo que pagam uma grana preta num curso e livros do Pablo Marçal), portanto o capitalismo precisa te convencer a lhe dar o seu dinheiro de outra maneira: ele simula pra você um auto-flagelo, um falso teatro da consciência. "Eu sei que eu sou um capitalista branco cis imperialista que causou sofrimento para milhares de pessoas, eu tô arrependido, olhe pra mim como eu estou me chicoteando pra provar que eu tenho consciência dos meus 'pecados'; agora, me dá o seu dinheiro, porque ele é a recompensa mais justa pro meu arco de 'redenção'". No caso de uma premiação como o Oscar, quando este dá a estatueta pra filmes como "12 Years A Slave", "Green Book", "Parasite", "Nomanland", "Everything Everywhere All At Once" e "Anora", nada mais é que a indústria colocando uma medalha em si mesma por ter dito: "foi mal aí, perdão pelo vacilo".
Enquanto isso, autores que realmente tem algo a dizer ficam nos cantos, e isso quando não são esmagados por essa mesma indústria que sinaliza suas próprias "virtudes": Coppola, Cronenberg, Eastwood e até nomes da nova geração como o S. Craig Zahler. E, sinceramente, uma pessoa que realmente estivesse preocupada em apontar as hipocrisias do capitalismo e do sonho americano muito provavelmente se enojaria por receber validação de Oscar.
Fiquei com a impressão de que a academia quer ir na direção de filmes com o orçamento mais modesto, desde de o ano passado, excluindo a campanha. Se a mensagem que academia quer passar visando a sustentabilidade da indústria, acho uma boa direção.