VI.
Ao que me parece, o governo japonês de fato detectou que três membros da seita viajaram de Tóquio para Los Angeles, pousando na cidade californiana uma semana antes do feriado da Páscoa, quando a Disneylândia, em Anaheim, faria uma grande celebração, com direito a paradas e queima de fogos. Desses três japoneses, dois foram detidos pelo FBI. A partir disso, nada é claro.
Não fica claro se a fita VHS estava em posse dos homens no aeroporto, ou se ela fora enviada para a Disney, que então notificou o FBI. Não é possível saber o que ocorreu com o terceiro homem, que seguiu para Nova York, onde a Aum Shinrikyio tinha um escritório em Manhattan (me parece que essa ligação é importante, tendo em vista que a investigação do caso ficou sob jurisdição do escritório do FBI de Nova York, e não o de Los Angeles ou outra cidade da Califórnia).
A reportagem do Baltimore Sun afirma que os homens foram apreendidos não só com a fita VHS (que contém a informação possivelmente incorreta de que haviam três datas circuladas no calendário) mas também com um papel contendo instruções de como fabricar gás sarin. No entanto, lendo a matéria do mesmo jornal, publicada no dia seguinte, contém um pronunciamento de um diplomata japonês afirmando que os dois homens detidos tinham, na verdade, materiais impressos que relacionavam gás sarin com pesticidas, e que os dois (ou três?) homens estivessem em Los Angeles buscando informações sobre pesticidas. O jornal também afirma que oficiais americanos corroboraram as declarações do diplomata japonês, ressaltando que os homens não tinham cometido nenhum crime, e que não havia nenhum indício que planejassem cometer um crime, e por isso teriam sido liberados (vale lembrar que Stern, um oficial do Departamento de Justiça, sequer comentou - ou confirmou - a fita VHS, e também se recusou a comentar sobre o interrogatório dos dois homens; essas declarações apareceram na matéria do Los Angeles Times, que refuta em parte o que apareceu na reportagem do Baltimore Sun).
O fato é, não sabemos sobre o que ocorreu com os dois homens japoneses depois que eles foram liberados pela polícia no LAX. Seguindo essa linha do tempo, a Disneylândia recebeu a fita (e talvez uma carta) ameaçadora, prometendo um ataque com gás nervoso, após esses fatos que transcorreram no aeroporto de Los Angeles. E essa ameaça não foi tratada com leviandade, tendo em vista que o próprio presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, comentou especificamente sobre essa ameaça contida na fita de vídeo. No entanto, de acordo com as reportagens do Los Angeles Times, o FBI rapidamente chegou à conclusão de que a ameaça não passava de uma farsa, perpetrada por um ex-funcionário do parque de diversões. A reportagem também cita que, apesar dessa declaração, o FBI estaria trabalhando para identificar e apreender o responsável por essa ameaça. E, ao que tudo indica, todo esse assunto se encerrou aí.
VII.
NO FINAL da noite de 28 de maio de 1993, algo quebrou a calma do sertão australiano e irradiou ondas de choque para centenas de quilômetros de matagal e deserto. Mais ou menos na mesma hora, motoristas de caminhão que cruzavam a região e garimpeiros acampados nas proximidades viram o céu escuro iluminado por flashes brilhantes, e eles e outras pessoas ouviram o estrondo distante de explosões altas.
O evento misterioso poderia ter se perdido na história, exceto pelo interesse de investigadores do governo na Austrália e nos Estados Unidos, que acabaram se perguntando se a revolta foi obra do culto do juízo final japonês acusado do ataque com gás venenoso no metrô de Tóquio em 1995, que matou 12 pessoas e feriu milhares.
O medo era que os terroristas tivessem adquirido armas nucleares ou outras armas de destruição em massa e as estivessem testando naquela noite no deserto selvagem australiano.
A esperança era que a revolta fosse um terremoto, uma explosão de mineração ou até mesmo um impacto de meteorito do espaço, qualquer evento natural.
Kiyohide Hayakawa, o “ministro” da Construção da Aum, comprou um 1993 um rancho no território ocidental da Austrália, Banjawarn. O solo da região era rico em minérios e metais preciosos, mas o objetivo do grupo era mesmo o urânio, presente em abundância. Com mais de 30 milhões de dólares à sua disposição, Hayakawa não só comprou o rancho, como construiu uma instalação e comprou maquinário de mineração para a extração do urânio. O objetivo era a construção de uma bomba atômica.
Diversos cientistas e técnicos da seita se mudaram para Banjawarn, e mesmo Hayakawa visitou o local diversas vezes em 1993, para acompanhar as diversas operações e experimentos do grupo. Mas Hayakawa também visitou a Rússia mais de 21 vezes, entre 1992 e 1995, procurando armas.
Como mencionei anteriormente, o grupo almejava fabricar fuzis AK-47. De fabricação russa, Hayakawa foi até a ex-União Soviética adquirir um modelo, que foi estudado e desmontado por engenheiros do grupo, numa tentativa de engenharia reversa, para que eles próprios pudessem fabricar as suas próprias. A queda da URSS abriu um mercado rico e valoroso para mercadores e traficantes de armas, e a Aum Shinrikyo, que possuía diversos escritórios e adeptos no país russo, tinha livre tráfego pelo país. Hayakawa comprou um helicóptero militar e recrutou dois cientistas nucleares russos para a seita, e os enviou para a Austrália. Quando Hayakawa foi eventualmente apreendido, um dos seus cadernos continham os valores de ogivas nucleares, de acordo com vários mercadores do mercado negro russo (existem relatos de que um dos planos da Aum com armas nucleares era a detonação de uma bomba atômica no World Trade Center, em Nova York).



Imagens do rancho Banjawarn, na Austrália, que pertenceu à Aum Shinrikyo nos anos 90. Na primeira imagem podemos ver as ossadas de ovelhas que foram contaminadas com gás sarin, num ensaio para os ataques de 20 de março de 1995. Na última imagem, autoridades australianas vasculham as terras do rancho, cujo solo é rico em urânio.
Como a tentativa de construir armamento nuclear não deu certo, o rancho na Austrália serviu de campo de testes para uma série de armamentos. Até hoje não se sabe o que ocasionou os abalos sísmicos naquela região, ou mesmo se a seita de fato era a responsável, mas é importante notar que terremotos naquela região são raríssimos, e que mesmo com intensa atividade de mineração, ela é proibida à noite e, mesmo assim, nenhuma mineradora usaria a quantidade de explosivos necessários para gerar um abalo sísmico naquela magnitude para exercer sua atividade de extração de minérios e metais. Além disso, há os próprios clarões de fogo no céu, que foram notados por uma série de pessoas.
Por fim, a equipe do IRIS calculou que o evento foi 170 vezes maior do que a maior explosão de mineração já registrada na região australiana, para ajudar a descartar essa possibilidade. A perturbação foi calculada como tendo a força de uma pequena explosão nuclear, talvez igual a até 2.000 toneladas de altos explosivos. Em contraste, uma bomba atômica com uma potência de cerca de 15.000 toneladas de altos explosivos arrasou Hiroshima, no Japão. Mas a assinatura da perturbação parecia ser mais a de um terremoto ou queda de meteorito do que uma explosão nuclear.
Normalmente, as ondas de choque de explosões nucleares começam com uma onda ou pico muito distinto, pois a terra e a rocha são violentamente comprimidas. O sinal então tende a se tornar mais difuso, pois a superfície estremece e, após os choques, cria um barulho sismológico.
Com terremotos, geralmente é o oposto, com empurrões suaves se tornando repentinamente muito maiores e violentos.
O principal problema para a análise do evento misterioso é que tais distinções claras tendem a se desfazer quando o tamanho da perturbação em estudo é relativamente pequeno, como foi o caso no interior da Austrália.
No entanto, os especialistas do IRIS julgaram que o episódio violento foi provavelmente de caráter natural, em vez de uma explosão provocada pelo homem, levando o oficial Washington a dar um suspiro de alívio.
Nenhuma menção ao enigma sísmico foi feita em audiências bem divulgadas que o senador Nunn conduziu no final de outubro e início de novembro de 1995 sobre Aum Shinrikyo como um estudo de caso do que fanáticos com grandes recursos financeiros podem fazer para adquirir armas de destruição em massa.
Seja como for, é importante notar que uma das armas fantasiadas por Hideo Murai era um equipamento capaz de induzir terremotos e abalos sísmicos. Essa é uma hipótese improvável e fantástica, mas como o artigo do The New York Times nota, Murai enviou cientistas da seita para a então Iugoslávia em busca de conhecimentos acerca dessa arma hipotética. O objetivo era estudar os escritos de Nikolas Tesla, cujo material de pesquisa estava armazenado no museu Tesla na universidade de Belgrado, na atual Sérvia. Tesla, nos anos 40, havia estudado a possibilidade de se criar um equipamento que pudesse induzir e provocar terremotos e abalos sísmicos. Apesar de muitos físicos e geólogos considerarem tal arma uma fantasia alucinada, o fato é que tal armamento foi teorizado e estudado tanto pela União Soviética quanto pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria. O fato é que ninguém sabe o que gerou o abalo sísmico em Banjawarn.
De todo jeito, posteriormente ao ataque no metrô de Tóquio, investigadores vasculharam o rancho australiano e encontraram mais de duzentas carcaças de ovelhas enterradas na propriedade. A autópsia revelou que elas foram mortas por gás sarin.
Desde o ataque em Matsumoto, Asahara ficara fascinado com o potencial destrutivo - e furtivo - do composto químico, e ordenou a sua fabricação imediata em grandes quantidades. Ele já sonhava com um ataque terrorista na população de Tóquio, um que ceifasse a vida de civis e políticos, e talvez empurrasse o país para uma guerra civil, acelerando sua visão de Armageddon.
Murai ordenou a construção de uma vasta fábrica de componentes químicos, a ser chefiada por Masami Tsuchiya, o cientista-chefe da divisão de armamentos químicos da seita. Denominada de Satyan-7 (“Verdade”), a fábrica era vasta e de ponta, construída no distrito de Kamikuishiki, em Fujigamine. Tanto a fábrica, quanto os insumos e equipamentos necessários para a fabricação do sarin em escala foram comprados usando uma porção de empresas de fachada pertencentes ao grupo. Os testes com o gás foram feitos, claro, na Austrália, e o grupo também adquiriu roupas protetoras e máscaras de gás, com equipes viajando constantemente entre Austrália e Japão. Além de sarin, Tsuchiya era responsável por fabricar LSD, fenobarbital, mescalina, metanfetamina e diversas outras drogas psicodélicas que eram utilizadas nos ritos de iniciação do grupo, uma forma de lavagem cerebral.
Apesar de toda tecnologia de ponta em Satyan-7, o fato é que, como um investigador afirmaria posteriormente, acidentes e vazamentos eram uma constante. Isso se dava pelo fato de que a Aum recrutava estudantes brilhantes, mas com pouca experiência prática, Uma série de cientistas e operários adoeceram na fábrica, e gás e outros compostos químicos vazaram para o vilarejo que fica no entorno da instalação, contaminando a população e animais. E foi justamente nessa fábrica que o gás sarin que foi utilizado no ataque no metrô de Tóquio foi fabricado.


Satyan-7, a fábrica de armamento químico da Aum Shinrikyo.
O ataque de 20 de março de 1995 foi o maior golpe contra a sociedade japonesa perpetrado por Aum Shinrikyo. Não fosse por alguns acidentes e erros de cálculos, milhares de pessoas poderiam ter morrido. Seja como for, o ataque foi orquestrado pelo grupo como uma forma de retirar a atenção que a seita vinha recebendo nos últimos meses, desde o final de 1994, e as batidas policiais de fevereiro de 1995. Além de diversionismo, o objetivo era o acirramento de conflitos civis e políticos.
A investigação do desaparecimento de Kiyoshi Kariya, além de diversos relatos de familiares, boletins de ocorrência e suspeitas contra a Aum Shinrikyo tornaram a situação insustentável para as autoridades japonesas, e elas se viram na iminência de deflagrar uma operação enorme contra a seita. O problema é que membros da Aum que pertenciam à polícia metropolitana de Tóquio informaram Asahara, que decidiu de última hora um ataque terrorista, que deveria cumprir um duplo papel: tirar a atenção das autoridades sobre a seita, e causar um dano tão grande ao governo que uma guerra civil fosse estimulada.
O alvo foi uma interligação de diversas linhas de metrô em Tóquio, na hora do rush, onde mais de um bilhão de pessoas passam por essas linhas de metrô e cruzamentos em um único dia, indo e voltando. Isso, somado ao fato de que o metrô é um local fechado e com pouca ventilação, aumentam consideravelmente o poder destrutivo do gás sarin. O ataque se concentrou nas linhas que passavam especificamente pelos distritos de Kasumigaseki e Nagatachō, em Chiyoda, onde fica a sede do parlamento japonês.
O plano foi organizado às pressas, e Ikuo Hayashi foi designado como o organizador. Masami Tsuchiya não teve tempo de fabricar gás sarin adequado para o ataque, e a tarefa caiu no colo da jovem Naoko Kikuchi, então com 24 anos de idade. O resultado foi um tipo de sarin que era menos eficiente, com uma coloração amarronzada e mal-cheiro.
O ataque foi perpetrado por dez homens. Cinco liberariam o sarin nos vagões do metrô, e os outros cinco foram designados como pilotos de fuga. Cada homem levaria consigo uma sacola cheia de sarin. Cada sacola também foi envolta em páginas de jornais, para disfarçar. No caso da sacola levada por Ikuo Hayashi, ele enrolou a sacola com folhas de jornal do partido comunista local, e também nas de uma publicação de uma seita religiosa rival. O objetivo de Hayashi era despistar a polícia, lançando a culpa sobre essas organizações.
Todos eram estudantes universitários de cursos de Exatas, sendo quase todos físicos. Uma exceção notável foi Yasuo Hayashi (sem relação com Ikuo). Yasuo era estudante de engenharia elétrica, e que já possuía passagens anteriores na polícia, com acusações de tráfico de drogas e agressão. Yasuo teve também uma série de crises espirituais ao longo de sua vida, e a Aum Shinrikyo foi uma espécie de renascimento. No entanto, seus colegas na seita o viam com desconfiança, rumores corriam que Yasuo planejava não só despertar a seita, como também delatá-los. Para provar sua lealdade, Yasuo se voluntariou a levar consigo três sacolas de sarin, ao invés de duas.
Segunda-feira, 20 de março de 1995. O grupo saiu do escritório central da Aum em Shibuya exatamente às seis da manhã. Em cinco carros diferentes, eles foram conduzidos por seus motoristas para três estações diferentes de metrô: Chiyoda, Marunoichi (sentido Ogikubo), Marunoichi (sentido Ikebukuro), Hibiya (sentido Tōbu Dōbutsu Kōen) e Hibiya (sentido Naka-Meguro). O grupo cronometrou cuidadosamente o metrô de Tóquio, um dos mais eficientes e certamente o mais populoso do mundo. Às 8h15 da manhã, as três linhas e cinco trajetos convergem em Kasumigaseki, bairro no distrito de Chiyoda que concentra boa parte dos órgãos governamentais de Tóquio e do país, além de ser sede da polícia e da burocracia da cidade. Mais de 125 milhões de pessoas passam pela estação numa manhã comum. Cada um dos cinco homens colocaria suas duas sacolas de sarin no chão, e as perfurariam discretamente com as pontas metálicas de seus guarda-chuvas - pontas essas que foram afiadas naquela madrugada, durante os ensaios do ataque. Elas seriam perfuradas pouco antes dos trens chegarem à uma estação, dando tempo dos terroristas saírem dos vagões e irem até a superfície, reencontrando os motoristas de fuga. Os sacos foram perfurados algumas estações antes de Kasumigaseki, com a ideia de dar tempo o suficiente do sarin vazar pelas sacolas perfuradas até chegarem ao alvo designado. Até lá, presumivelmente, não só muitos civis entrariam nos vagões contaminados, mas também oficiais do governo, em seu traslado até o trabalho.
(1) Linha de metrô: Chiyoda
Trem: A725K
Terrorista: Ikuo Hayashi
Motorista de fuga: Tomomitsu Niimi
Quando embarcou no trem à 07h48 da manhã, Hayashi usava uma máscara cirúrgica , que é comum no Japão, principalmente durante as temporadas de doenças contagiosas, como gripe. Hayashi perfurou uma das sacolas de sarin, deixando a outra intacta. Ele saiu na estação Shin-Ochanomizu, o principal distrito comercial de Chiyoda.
O trem continuou por mais quatro estações, com passageiros passando mal, tendo dificuldade de respirar e com a visão ficando embaçada e turva. Dois atendentes do metrô removeram a sacola de sarin - eles morreriam naquele mesmo dia. O trem continuou por mais uma estação, até ser colocado fora de serviço, evacuado, e limpado.
(2.1)
Linha de metrô: Marunouchi
Trem: A777
Terrorista: Kenichi Hirose
Motorista de fuga: Kōichi Kitamura
Pouco antes de chegar até a estação de Ochanomizu, Hirose colocou as duas sacolas de sarin no chão do vagão, repetiu o mantra da Aum, e perfurou as duas sacolas com tanta força que a ponta de metal de seu guarda-chuva entortou. Todos os 900ml de sarin vazaram no chão do vagão (ele estava no segundo ou terceiro vagão do trem). Por conta disso, Hirose acidentalmente se contaminou com o sarin mas, ao reencontrar seu motorista de fuga, na saída da estação, ele tomou uma injeção com o antídoto.
Dezenove estações depois, dois passageiros gravemente contaminados foram retirados do trem (um destes passageiros morreria). Apesar disso, o trem continuaria normalmente por mais cinco estações. Quando ele chegou, às 08h38min, na estação Ogikubo, o fim da linha Marunouchi, o trem continuava com passageiros. Ele só foi evacuado e retirado de serviço após mais duas estações. No total, 358 passageiros ficaram feridos gravemente e um morreu em decorrência do ataque.
(2.2)
Linha de metrô: Hibiya
Trem: B711T
Terrorista: Masato Yokoyama
Motorista de fuga: Kiyotaka Tonozaki
Pouco antes de entrar no quinto vagão do trem, Yokoyama vestiu uma peruca e óculos falsos. Ao se aproximar da estação Yotsuya, Yokoyama perfurou suas sacolas de sarin. Ele não conseguiu perfurar uma das sacolas, que ficou intacta, e a outra ele só conseguiu fazer um furo, resultando numa dispersão lenta do sarin. O trem chegou no fim da linha, Ikebukuro, às 08h30min. Nesse momento, o trem faria a volta e recomeçaria o trajeto pela direção oposta. Antes de partir, no entanto, o trem foi evacuado e vasculhado, mas funcionários do metrô não encontraram as sacolas de sarin.
O trem voltou a funcionar, mas logo os passageiros que entraram Ikebukuro começaram a passar mal. Ele chegou na estação, e o saco de sarin foi retirado, mas o trem continuou funcionando normalmente. O trem só foi ser retirado de serviço algumas estações depois, às 09h02min da manhã. Mais de 200 pessoas ficaram gravemente feridas, mas ninguém faleceu em decorrência do ataque.
(3.1)
Linha de metrô: Hibiya
Trem: B801
Terrorista: Toru Toyoda
Motorista de fuga: Katsuya Takahashi
Toyoda entrou no primeiro vagão de trem às 07h59min. Ficou sentado bem próximo das portas. Ele imediatamente deixou as sacolas no chão, perfurando-as na sequência. Saiu na estação seguinte. Toyoda ficou dois minutos dentro do trem.
Duas estações depois, em Roppongi (distrito que ficaria, anos depois, mundialmente conhecido por conta do desaparecimento e assassinato da inglesa Lucie Blackman), os passageiros começaram a passar mal e a reclamarem do odor químico presente no vagão. Abriram as janelas do trem, mas isso de nada adiantava. Na estação seguinte, Kamiyacho, os passageiros entraram em pânico. O trem foi interrompido, evacuado e os passageiros transportados para o hospital. No entanto, somente o primeiro vagão foi evacuado, e o trem continuou normalmente, até ser enfim interrompido na estação seguinte. Uma pessoa morreu nesse ataque, e mais de 500 sofreram danos graves à saúde.
(3.2)
Trem: A720S
Terrorista: Yasuo Hayashi
Motorista de fuga: Shigeo Sugimoto
Hayashi entrou no terceiro vagão de trem, na estação Ueno. Ele colocou as três sacolas no chão, e perfurou duas. A terceira já estava com vazamentos. Hayashi executou o maior número de perfurações entre todos os terroristas naquele dia. Ele saiu na estação seguinte.
Os passageiros logo começaram a passar mal. Quando o trem chegou na estação Kodenmachō, as portas se abriram e um dos passageiros chutou as sacolas de sarin na plataforma. Isso resultaria na morte de quatro pessoas. O trem continuou seu trajeto, com uma poça de sarin no terceiro vagão.
O quadro dos passageiros piorou, e o botão de emergência foi acionado. No entanto, como o trem percorria um túnel, ele não podia parar. Ao chegar na estação, com passageiros desmaiando no chão da plataforma Tsukiji. Oito passageiros morreram, e 275 foram gravemente contaminados.
No total, doze pessoas morreram no dia 20 de março de 1995. No dia 21, uma vítima morreu em decorrência da contaminação. Em 2020, vinte e cinco anos depois do ataque, a décima quarta vítima do ataque faleceu, após passar as últimas duas décadas presa a uma cama e necessitando de atenção médica constante. Mais de seis mil pessoas foram atingidas pelo sarin, com aproximadamente duas mil tendo sofrido sintomas graves e potencialmente letais.
Muitas das pessoas que foram expostas ao gás, mas que exibiram sintomas leves, continuaram nas suas rotinas, indo trabalhar. Ao longo do dia, no entanto, com a piora do quadro, foram conduzidas até os hospitais, que ficaram lotados de pacientes.
O dia 20 de março foi caótico. Nas estações, centenas de pessoas cambaleavam, vomitavam e tossiam. Com a visão obscurecida e dificuldade em respirar, não conseguiam se orientar para a superfície. Nos trens, pessoas no chão, convulsionando. Os altos falantes berravam “Evacuem, evacuem, evacuem”. Nas ruas, nas saídas das estações, o caos não era menor. Centenas desmaiaram, enquanto outras colapsaram silêncio. Gases nervosos como o sarin interrompem completamente as vias respiratórias. As pessoas convulsionavam em silêncio absoluto, uma visão sem dúvida estranha e bizarra. Logo, os sons das sirenes de polícia, bombeiros e paramédicos tomaram a capital do país, assim como os céus foram pontuados de helicópteros. A resposta das autoridades foi lenta e confusa, demorando para pararem os trens, e com má organização na distribuição de vítimas entre os diversos hospitais de Tóquio. As suspeitas do ataque recaíram quase que imediatamente sobre a Aum Shinrikyo, e nesse momento, as autoridades policiais de Tóquio não demoraram para agir.






Shoko Asahara e diversos membros do alto escalão da seita se tornaram foragidos, apesar de terem declarado sua inocência via os canais oficiais da seita. Asahara possuía diversos contatos em universidades, principalmente com intelectuais em departamentos de teologia e antropologia. A acadêmica Shimada Hiromi, uma professora na Universidade da Mulher em Tóquio, foi uma que logo se colocou a proclamar a inocência da Aum Shinrikyo no ataque. Mas o guru da Verdade Suprema foi além, entrando em contato com acadêmicos norte-americanos.
Ele mantinha proximidade com o grupo AWARE (Association of World Academics for Religious Education - Associação de Acadêmicos Mundiais para Educação Religiosa), fundada pelo scholar James R. Lewis. A associação saltou para a defesa da Aum, alegando que os direitos humanos dos seus membros estavam sendo violados pelas autoridades, nas inúmeras batidas e prisões que foram feitas na sequência do ataque. Lewis contatou do advogado de direitos humanos Barry Fisher, o scholar das religiões J. Gordon Melton (que possui mais de 45 livros publicados, além de ser um pastor metodista), e um químico, Thomas Banigan. Os três viajaram até Tóquio, com as passagens e despesas pagas pela Aum Shinrikyo. Parte da defesa que o grupo montou mostrava que a Aum não teria capacidade de produzir o gás sarin usado no ataque.
O problema é que, naquele momento, a polícia de Tóquio já havia feito diversas batidas em diversos endereços da Aum. Descobriram o vasto estoque de armas biológicas e químicas, além da fábrica Satyan-7 em Kamikuisshiki. A polícia também encontrou explosivos, o helicóptero militar e a fracassada fábrica de AK-47s. Além disso, em diversos outros endereços, encontraram evidências dos ataques e assassinatos anteriores cometidos pelo grupo. A resposta ao ataque foi internacional, e a Aum logo foi designada uma organização terrorista pela Rússia, Austrália, Estados Unidos e boa parte dos países asiáticos e europeus, precipitando investigações nesses países também. Mas não foi só o armamento que eles encontraram: no complexo da Aum próximo ao monte Fuji as autoridades também encontraram um complexo prisional, com celas repletas de prisioneiros - pessoas que foram sequestradas por serem ligadas a grupos e associações anti-um, como possíveis delatores de dentro da própria seita. Os bens da Aum Shinrikyo foram confiscados, e a seita perdeu seu status protegido de religião.
Hideo Murai foi assassinado no dia 23 de abril de 1995, na porta da sede da Aum em Tóquio. Murai estava rodeado por mais de cem jornalistas quando o jovem coreano Hiroyuki Jo o esfaqueou. Jo era membro da Yamaguchi-gumi, a maior organização da Yakuza. Nenhum motivo jamais foi explicitado para o crime.
No dia 5 de maio de 1995, a polícia de Tóquio encontrou um envelope em chamas em uma lixeira da estação de metrô de Shinjuku, uma das mais movimentadas da cidade. O envelope continha cianeto de hidrogênio. O gás, caso não tivesse sido apagado a tempo, teria penetrado o sistema de ventilação da estação, e poderia ter matado mais de dez mil pessoas. No dia 4 de julho, mais envelopes com cianeto de hidrogênio foram encontrados em outras estações de metrô de Tóquio.
No dia 16 de maio de 1995, Shoko Asahara foi finalmente encontrado pela polícia. Enquanto os oficiais e detetives investigavam o complexo de Kamikuishiki, uma parede falsa foi descoberta. Atrás dela, Asahara se encontrava, sentado em uma poça de sua própria urina e fezes. No mesmo dia de sua prisão, o governador de Tóquio, Yukio Aoshima, recebeu uma carta endereçada a ele. Quando seu secretário abriu o envelope, uma explosão decepou três dedos de sua mão.
Asahara, enfim, capturado.
Após ser julgado e condenado à morte em 2004, junto com diversos outros membros da organização, incluindo os terroristas que assassinaram a família Sakamoto, executaram o ataque de sarin em Matsumoto e o ataque ao metrô de Tóquio, Asahara emudeceu. Do dia de sua condenação, em 27 de fevereiro de 2004, até a sua execução em 6 de julho de 2018, Asahara nunca mais abriu a boca. Ele inclusive ficou imóvel: precisava ser banhado, e era alimentado por guardas, que levavam o alimento até a sua boca. Do alto escalão da Aum Shinrikyo, somente Ikuo Hayashi permanece vivo, cumprindo sua pena de prisão perpétua.
Uma das coisas que mais chamam a atenção de estudiosos de seitas, ideologias extremistas e grupos terroristas é a forma como tais grupos conseguem atrair para si pessoas de classe média alta, de elite e que se graduaram em cursos dificílimos em faculdades de elite. Este é, por exemplo, um dos focos de estudo de Robert Jay Lifton, que escreveu um livro sobre a Aum Shinrikyo, assim como diversos outros onde estuda a lavagem cerebral promovida pelo Partido Comunista Chinês de Mao Tse Tung sobre a elite acadêmica e burocrática de seu país, sobre os médicos que serviram ao Terceiro Reich e a seitas como a de Jim Jones.
Não cabe aqui discutir a obra de Lifton, mas o fato é que ele não é único a se debruçar sobre o caso bizarro da Aum Shinrikyo. Muitos apontam para o fato de que a seita explodiu em popularidade de maneira vertiginosa, explorando técnicas avançadas de marketing e persuasão, e dobrando parte da cultura pop a seu favor. Quando pensamos em seitas, pensamos em pessoas sujas e esquisitas, meio ripongas, morando em algum fim de mundo rural e urbano, que usam técnicas capengas e rudimentares para seduzirem pessoas frágeis, excluídas e geralmente com pouca capacidade cognitiva. A Aum Shinrikyo, ao contrário, era uma seita high tech. Sua sede era um arranha-céu no centro multicultural e jovem de Tóquio, o distrito de Shibuya. Seu alto escalão era preenchido por pessoas brilhantes que se formaram em cursos de hard science de ponta nas faculdades mais elitistas do Japão. Ao contrário de grupos terroristas como Al Qaeda, Hamas, Boko Haram e o Estado Islâmico, com seus extremismos religiosos e sectários, a Aum não existia escondida nas cavernas de algum país quente, arenoso e com IDH negativo. Ela era a elite num dos países mais prósperos e tecnologicamente avançados do mundo, situada no coração de uma metrópole que parecia arrancada de um romance cyberpunk. A Aum era uma megacorporação bilionária que foi construída do zero por seu líder carismático, e não fruto de herança de um riquinho mimado como Osama Bin Laden. Suas crenças, por mais bizarras e alucinantes que fossem, olhava em partes para o futuro, buscando uma espiritualidade num horizonte de transhumanismo, inteligência artificial e armas de destruição em massa paridas nos laboratórios mais bem equipados do mundo.
Muitos apontam também para o fato de que, na década de 80, o Japão viveu um boom de prosperidade nunca antes visto na história do país. Esse boom se traduziu na consolidação de empresas multinacionais japonesas, que vão da indústria de carros (Nissan, Mitsubishi), maquinário pesado e aviação até software como videogames (Nintendo, Sega) e discman (Sony, Toshiba). Esse saldo extraordinário coincidiu com a ascensão da Geração X que, assim como nos Estados Unidos, se traduziu em consumismo, hedonismo mercantilizado e o completo esvaziamento de diversos ritos e costumes tradicionais da cultura japonesa. O surgimento alucinante de novos movimentos religiosos, todos quase que ao mesmo tempo, parece apontar para uma carência de espiritualidade, para não falar de laços comunais, que fosse mais sólido que o vazio do consumismo desenfreado. De todos esses grupos religioso que surgiram, a Aum Shinrikyo era, sem sombra de dúvidas, a melhor posicionada para o momento. Shoko Asahara e seus “ministros” souberam perfeitamente como penetrar na psique do povo, em especial de homens jovens, estudantes brilhantes que, no entanto, tinham dificuldades pessoais de se relacionarem (em especial com o sexo oposto) e mais ainda em saber o que fazer com seus dons e talentos. É verdade que jovens como aqueles que espalharam sarin pelo metrô teriam tido vidas profissionais extremamente bem-sucedidas, mas e o que mais? Todo esse dom, genialidade e talento a serviço de simplesmente enriquecerem? Shoko Asahara certamente ofereceu algo a mais a esses homens.
Como o título do livro de Lifton revela, Shoko Asahara queria destruir o mundo para salvá-lo. Vivendo na transição do mundo bipolar da Guerra Fria, e o futuro globalizado pós-queda do Muro de Berlim, é de se pensar que numa sociedade como a japonesa tenha vivido sentimentos extremos e contraditórios de euforia e ansiedade, gozo e aflição. Asahara não ofereceu uma mera visão reacionária, de buscar num passado idealizado seu objetivo; o seu futuro tampouco era um paraíso. Ele pregava nada menos que o apocalipse nuclear, e suas “profecias” eram pontuadas de desastres naturais como terremotos e epidemias. Assim como na ficção de Asimov, Asahara queria moldar uma elite intelectual e científica que pudesse emergir das ruínas, mesclando ciência com espiritualidade, para refundar a humanidade. Vivendo no ocaso de um mundo e no nascimento de outro, não é difícil ver como Asahara capturou mentes e corações.
No fim, é impossível saber ao certo o que fez com que tantas pessoas fossem atraídas a um culto de morte como a Aum Shinrikyo. Não é à toa que a seita de Shoko Asahara tenha sido tão comparada ao nazismo, ao comunismo russo de Stálin, ao chinês de Mao e ao Khmer Rouge de Pol Pot. Traça também comparações com grupos extremistas islâmicos. Mas, de certa forma, Shoko Asahara parece ter ido além do que esses grupos em sua capacidade de recrutamento. Pode ser que ele não tenha tido tanto sucesso em seus delírios de morte e destruição e massa, mas pode ser também que ele tenha tido, simplesmente, azar.
VIII.
Hoje, a Aum Shinrikyo continua existindo, mas sobre outro nome, Aleph. O ataque de 20 de março de 1995 é considerado o pior ataque sofrido pelo Japão desde a Segunda Guerra Mundial, e o pior ataque de terrorismo doméstico na história do país. O status de religião foi novamente reconhecido pelo governo japonês, mas com a condição que o grupo seja fortemente monitorado pelas autoridades. Eles possuem menos de três mil membros, e continuam seguindo ensinamentos de Asahara, ainda que tenham explicitamente rejeitado o passado violento da religião. Apesar de possuírem diversos empreendimentos comerciais, o grupo é ocasionalmente alvo de campanhas de boicote no Japão.
Há ainda outro grupo religioso, Hikari no Wa (O Círculo da Luz do Arco-Íris) que foi fundado em 2007 por Fumihiro Joyu. Formado pela universidade de Waseda, uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior do país, Waseda possui doutorado em Inteligência Artificial. Nos anos 1990, ele era o relações públicas da Aum, e eventualmente assumiu o controle da seita na Rússia. Em 2007, ele se separa da Aleph, criando essencialmente uma “seita da seita”. Os preceitos do grupo não é só um retorno aos ensinamentos espirituais de Asahara, mas principalmente a busca por uma fusão entre budismo e alta tecnologia. Assim como o Aleph, o grupo é fortemente vigiado pelas autoridades japonesa e russa.
Seja lá quem for o autor da fita VHS encontrada, ao acaso, pelo youtuber Dr. Rip, ele nunca foi identificado, quanto mais capturado. Ela também é a principal evidência numa investigação que mobilizou dois países, diversos órgãos de policiamento, inteligência e mesmo de combate a ameaças químicas e biológicas, a ponto do presidente dos Estados Unidos dar declarações sobre a ameaça.
Agora, o fato é que não só o FBI de Nova York investigou o caso, como o arquivou no seu sistema central de registro sob o código de contrainteligência e combate ao terrorismo estrangeiro. A etiqueta na fita aponta para o fato de que o FBI, portanto, não estava trabalhando com a hipótese do VHS ter sido uma farsa produzida por um ex-funcionário desapontado com o parque da Disney. Agora, essa contradição parece ter sido gerada, como falei, porque toda essa história só chegou aos jornais por que ela foi vazada por alguém que participava da investigação em primeiro lugar.
Uma vez que a seita Aum Shinrikyio passou a ser investigada após o ataque no metrô de Tóquio em 20 de março de 1995, o grupo passou a ser designado como uma organização terrorista a ser combatida por diversos países, tendo em vista que o grupo já havia se espalhado para além das fronteiras do Japão. Mais de quinhentas batidas foram realizadas em diversos endereços onde o Aum tinha escritórios, entre os dias 23 de março e 4 de setembro de 1995, resultando na coleta de mais de sessenta mil evidências - uma delas sendo, claro, a nossa fita VHS. É por isso que é estranha o relato de que o diplomata japonês afirmou que os dois homens detidos no LAX estavam pesquisando gás sarin em relação a pesticidas, e que essa explicação foi aceita por autoridades americanas, tendo em vista que o atentado em Tóquio havia ocorrido menos de um mês antes, e o grupo já havia sido designado uma organização terrorista, sendo caçado em todo o planeta.
Além disso, é importante notar que a data 15 de abril de 1995, prometida no vídeo, poderia também estar relacionada a uma profecia de Shoko Asahara. Conforme relatado no jornal The New York Times, Asahara profetizou que um terremoto devastador atingiria o Japão no dia 15 de abril :
Milhares de policiais invadiram cerca de 130 prédios usados pela seita, da ilha de Hokkaido, no norte, até Okinawa, no sul. A polícia removeu 53 crianças do complexo principal do culto e as levou para um centro de assistência social em uma cidade próxima.
Milhares de policiais foram empregados em postos de controle de estradas em uma caçada ao líder do culto, Shoko Asahara, que está escondido com muitos de seus principais conselheiros.
O grupo religioso, cujo nome significa "verdade suprema", negou qualquer envolvimento no ataque ao metrô e disse que não planejou nenhuma ação para hoje.
Mas o Sr. Asahara, que profetizou que o mundo acabará em 1997, disse no início deste ano que um grande desastre atingirá Tóquio em 15 de abril. Ele sugeriu que seria um terremoto, mas a polícia está em alerta para ataques terroristas. Com base em ingredientes confiscados em ataques anteriores, eles suspeitam que o culto tenha estoques de sarin, o gás nervoso usado para envenenar passageiros do metrô de Tóquio na hora do rush em 20 de março.
É claro que, tendo em vista o calor do momento, e a própria natureza ambígua da seita, sem contar sua capacidade para a violência apocalíptica, tal “profecia” poderia ser interpretada como uma promessa de ataque. E, tendo em vista que o elemento apocalíptico central do pensamento de Asahara era uma guerra entre Japão e Estados Unidos, que levaria à destruição do mundo em 1997, não é de todo improvável supor que ele planejaria algum tipo de ataque nos EUA, possivelmente para instigar tensões entre os dois países. Ou seja, existe uma possibilidade que essa “profecia” de Asahara seja uma referência à fita VHS.
E vamos voltar a ela. Como que ela foi parar num cesto de doações numa loja da Goodwill? É importante notar que, no site do FBI, não há quase nenhuma informação disponível sobre o grupo Aum Shinrikyo. Há uma porção de documentos que foram disponibilizados sobre uma miríade de organizações terroristas, que vão de grupos de extrema esquerda, supremacistas brancos e até mesmo a Al Qaeda. Agora, não há quase nada sobre essa seita japonesa. Claro, não sendo um cidadão americano, eu não posso entrar com um requerimento FOIA exigindo documentos. Dito isso, pesquisando sobre esse assunto em particular, eu descobri que diversos requerimentos sobre o Aum Shinrikyo foram submetidos ao FBI via FOIA, mas até agora nenhum deles foi liberado (estão em “análise”), e uma porção de outros pedidos foi simplesmente negada. Sendo assim, essa fita VHS definitivamente é uma peça de evidência importante do FBI que foi parar, de alguma maneira, numa loja de departamento de itens de segunda mão em Portland, no Oregon, eventualmente encontrando seu caminho até o YouTube.
Como o youtuber Barely Sociable notou sobre a fita de VHS e todo esse caso, parece que tudo é uma série de coincidências bizarras, a começar pelo fato de que essa história só se tornou conhecida do público por ter sido vazada anonimamente para um jornal, forçando agentes e oficiais dos Estados Unidos e do Japão, sem contar da Disneylândia, a se pronunciarem, gerando uma série de contradições e inconsistências. E, claro, não há coincidência maior do que toda essa série de eventos estranhos e até hoje não explicados terem chegado - ao que tudo indica por acidente - até um canal extremamente nichado de YouTube, despertando novamente interesse no caso.
Referências
Canal Dr. RipVHS
https://www.youtube.com/@DrRIPVHS
JERRY HILL 199M NY 252958 VHS
FBI/Governo norte-americano
https://www.archives.gov/research/investigations/fbi/central-records
https://vault.fbi.gov/
https://www.archives.gov/research/investigations/fbi/other-records
https://www.archives.gov/research/investigations/fbi/access
FBI > The Vault > John Wayne Gacy
https://vault.fbi.gov/John%20Wayne%20Gacy/John%20Wayne%20Gacy%20Part%2001%20%28Final%29/view
FBI > The Vault > Abbie Hoffmann
https://vault.fbi.gov/abbie-hoffman/Abbie%20Hoffman%20Part%2002/view
FBI > Manual de Classificações
https://www.archives.gov/research/investigations/fbi/classifications
Jerry Hill
https://lasvegassun.com/news/1998/oct/21/fbi-insurance-fraud-agents-mysteriously-search-ren/
https://lasvegassun.com/news/1997/aug/01/fbi-alleges-three-arrested-planned-attacks-on-fede/
Aum Shinrikyo
https://www2.cs.siu.edu/~hexmoor/CV/PUBLICATIONS/BOOKS/Case/Aum.pdf
Mais de 125 milhões de pessoas passam pela estação numa manhã comum.
Rapaz, mas que história... achei bem interessante os livros do Jay Lifton também...